Violência obstétrica em Sergipe: Um problema silenciado
Desinformação, racismo, ausência de debate e corporativismo médico põem gestantes em situação de vulnerabilidade Por Jô Pontes Ilustração: Ani Ganzala “Ele chegou com muita ignorância,
A série jornalística (In)justiças reprodutivas: nossas vidas importam! apresenta nove reportagens, uma para cada estado da região Nordeste, sobre casos emblemáticos de violações de direitos sexuais e direitos reprodutivos, pela ótica da Justiça Reprodutiva. A série é fruto de uma Clipagem preliminar sobre Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos na Região Nordeste, que teve por objetivo identificar os discursos e narrativas sobre esta agenda nos diversos segmentos da imprensa, em todos os estados da região.
Sob consultoria técnica para clipagem e redação das jornalistas Eduarda Nunes e Jô Pontes, a partir da coordenação editorial e metodológica de Alane Reis, adentramos o universo das narrativas jornalísticas em torno dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos na região, com intuito de identificar como o racismo patriarcal não só influencia, como determina, como as histórias de vida e morte de meninas e mulheres nordestinas, quase todas negras, são contadas e compartilhadas na esfera pública.
É desolador e revoltante como ainda hoje o jornalismo tem funcionado a serviço dos poderes e valores conservadores racistas sexistas cristãos, que sob uma sanha justiceira e burocrata, revitimiza e criminaliza meninas e mulheres negras e pobres desesperadas, violadas e abandonadas desde a infância à crueldade de homens abusadores, como é possível conferir na reportagem “A imposição da maternidade para a menina piauiense de 12 anos”, que conta a história da criança grávida pela segunda vez.
A menina do Piauí é uma dos 179.277 casos de estupro ou estupro de vulnerável, ocorridos no Brasil entre 2017 e 2022. Destas vítimas, pelo menos 62 mil tinham menos de 10 anos de idade. Esta realidade demonstra que entre as tantas urgências da Justiça Reprodutiva, a defesa da Educação Sexual pode salvar vidas, como conta a reportagem “Educação sexual nas escolas previne e combate a violência contra crianças e adolescentes”.
Outro assunto urgente e emergente nesta agenda, é o poder e corporativismo médico, que acoberta a negligência, violências e discriminações desta classe profissional que age sem se preocupar com a lei quando o assunto é violência obstétrica, já que esta violação de direito das pessoas que gestão e parem, sequer é monitorada e criminalizada pelo Estado, como veremos nas reportagens “Violência obstétrica em Sergipe: Um problema silenciado” e “A Peregrinação do Parto: No Ceará, casos de mulheres que deram à luz em calçadas despertam para o problema da violência obstétrica no estado”.
Outro aspecto da violência obstétrica que é historicamente denunciado pelos Movimentos de Mulheres Negras diz respeito aos procedimentos de laqueaduras forçadas. Entre os anos de 1970 e 1990, a esterilização em massa das mulheres negras foi uma forma do genocídio da população negra brasileira mundialmente denunciada, e enga-se quem acredita que esta prática ficou no passado. Confira na reportagem “Esterilização forçada de mulheres negras ainda persiste no Nordeste do Brasil”.
Ainda sobre a supremacia médica no ecossistema da saúde sexual e reprodutiva, refletimos sobre a disputa desta categoria com os enfermeiros, em relação a implantação dos Dispositivos Intrauterinos (DIUs) – importante medida de planejamento familiar e reprodutivo, como conta a reportagem “Disputas políticas interferem na ampliação do acesso ao planejamento familiar em Alagoas”.
A defesa dos nossos direitos é e sempre foi sobre nossa própria conta, e neste sentido, os movimentos de mulheres não param de se renovar em criatividade e pró atividade na criação de ações que garantam o acesso à saúde, veja na reportagem “No Maranhão, debate sobre Dignidade Menstrual faz coletivo de meninas e adolescentes crescerem politicamente”.
Cada período apresenta seus desafios em relação à Justiça Reprodutiva. Entre os anos de 2015 e 2017, o Brasil viveu o ápice da tríplice epidemia da Zika, Dengue e Chikungunya. No Nordeste do país, região mais afetada pelo surto sanitário – fruto do descaso dos governos estaduais – uma geração de milhares de crianças nasceram com microcefalia, causadas por má formação fetal, como sequelas em grávidas que adoeceram na epidemia. Anos depois, como vivem essas mulheres e crianças? É o que apresenta a reportagem “A Síndrome Congênita do Zika Vírus em Pernambuco e o fortalecimento coletivo de mulheres negras, pobres e periféricas, mães de crianças com microcefalia”.
Na série, teve também a própria crítica à cobertura jornalística em relação aos assuntos dos direitos sexuais e reprodutivos, que você confere na reportagem “O desserviço da grande mídia potiguar aos Direitos Sexuais e Reprodutivos no estado”.
Confira a série completa no Nós por Nós – Observatório de Justiça Reprodutiva do Nordeste
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