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Ativistas do Nós por Nós participam da Conferência Regional sobre a Mulher na América Latina e Caribe, e pautam a relação do racismo com as violações de direitos das mulheres

As graves situações em relação aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres negras brasileiras foi tema central da incidência do Odara durante evento da CEPAL

Ativistas do Odara – Instituto da Mulher Negra participaram da Conferência Regional sobre a Mulher na América Latina e Caribe, realizada pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), no Chile, entre os dias 3 e 5 de dezembro. O evento, que integra as preparações para os 30 anos das conferências de Beijing e Cairo, reuniu gestores governamentais e organizações de diferentes países para discutir os avanços e desafios em relação aos direitos das mulheres, com especial ênfase nos direitos sexuais e reprodutivos. No entanto, a participação do Odara teve um foco claro: garantir que as questões das mulheres negras fossem efetivamente incluídas nas pautas globais de direitos.

Verônica Santos, ativista do Odara e coordenadora do Nós por Nós – Observatório da Justiça Reprodutiva no Nordeste, foi uma das participantes da delegação brasileira. Ela destacou que enquanto muitas organizações estavam representadas por mulheres brancas, apenas o Odara e o Geledés trouxeram a perspectiva das mulheres negras para a mesa de debates: “A presença do Odara foi essencial para pressionar por uma agenda que leve em conta as especificidades das mulheres negras. Não podemos aceitar que os direitos das mulheres negras sejam tratados como uma questão marginal”, afirmou Verônica.

Um dos momentos importantes do evento  aconteceu durante uma reunião com a Ministra da Mulher do Brasil, Cida Gonçalves. Verônica questionou a postura da ministra, que se recusou a modificar o documento de referência discutido no evento, alegando que as propostas de outros países não seriam aceitas. A ministra não reconheceu a necessidade de adaptar a agenda global para refletir as realidades das mulheres negras: “Nossa intervenção foi importante para lembrar que, no Brasil, ainda há um grande retrocesso nos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres negras, e isso precisa ser abordado com urgência”, destacou Verônica.

Além disso, Beatriz Sousa, articuladora do Núcleo de Juventude do Odara, também esteve presente no evento, a qual  obteve um papel ativo na construção de um manifesto de juventudes latino-americanas: “Tivemos a oportunidade de, como mulheres negras brasileiras, garantir que a questão racial fosse central no manifesto de juventudes, que foi lido por uma jovem indígena do Panamá. Também dialogamos com a ministra sobre a urgência de incluir a pauta racial nas próximas movimentações até a CSW  (Comissão sobre a Situação da Mulher). Foi uma experiência intensa e produtiva, reforçando a importância de colocar a luta das mulheres negras no centro das discussões sobre diversidade e direitos”, afirmou Beatriz. 

A participação do Odara no evento também foi estratégica para a preparação de futuras mobilizações, como a CSW, que ocorrerá no próximo ano. “Nos próximos encontros, nossa participação não será apenas para ouvir, mas para influenciar as decisões e garantir que as questões das mulheres negras sejam tratadas de forma central nas discussões globais”, concluiu Verônica.

Com a atuação no Chile, o Instituto  Odara reafirma seu compromisso com a luta das mulheres negras por direitos sexuais e reprodutivos, e com a construção de uma agenda global que reconheça as especificidades e necessidades dessa população. 

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